Luiz Antonio de Assis Brasil  autografou no dia 08 de outubro, seu novo livro Ensaios íntimos e imperfeitos. O lançamento aconteceu na Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country, em Porto Alegre.

Nesta obra, o consagrado escritor gaúcho explora um gênero novo, no qual expõe suas reflexões íntimas sob um olhar poético e inspirador. Em entrevista a L&PM Editores, Assis Brasil fala sobre o novo livro, seu processo de criação literária e seus personagens favoritos. 

L&PM – Grande parte de sua obra são romances. Como é se aventurar em um gênero novo, como em Ensaios íntimos e imperfeitos?

Luiz Antonio de Assis Brasil – Eu não poderia considerar propriamente uma aventura. Gosto, há muito, de refletir e, em geral, refletir por escrito. Seja no meu diário pessoal, seja nos textos que assino na Zero Hora, gosto de registrar o rumo dos meus pensamentos, até para saber o quanto são contraditórios. Reunir tudo isso num livro foi apenas uma conseqüência. É uma forma de partilhar com os leitores, de uma forma sistemática, das idéias que me ocorrem.

L&PM – Explique por que o livro se chama Ensaios íntimos e imperfeitos?

Assis Brasil – São íntimos porque derivam de pensamentos/humores pessoais, e são imperfeitos como toda obra humana. Gosto, também, que sejam "ensaios", essa feliz denominação de Michel de Montaigne; um ensaio é algo necessariamente imperfeito. Um ensaio não é um tratado. Como ensaio, então, poderá ser refeito, rasurado. A obra perfeita jamais será escrita. Enquanto isso, ensaiamos.

L&PM – Você tem uma ficção fortemente vinculada ao sul do Brasil e a seu passado histórico. Qual a principal marca da sua literatura?

Assis Brasil – Na verdade-verdadeira, o passado histórico não me interessa como motivo literário. Isso pertence aos historiadores e aos escritores de romances históricos. O que me importa é a alma humana e a condição precária de nossa existência. O fato de a maioria das minhas histórias [não todas!] situarem-se no passado é apenas uma circunstância menor. Cabe aos críticos evidenciarem o que reconhecem como marca de algum escritor. 

L&PM – Você pode nos contar como é o seu processo de criação literária?

Assis Brasil – Tentarei responder pensando apenas nos meus romances. No início é o caos. Lentamente, forma-se o cosmos, o que significa: de uma idéia embrionária, flou, brota alguma luz e alguma ordem, expressa na escolha das personagens, nas escolhas do tempo e do espaço, na divisão em capítulos, na seleção dos narradores, etc., isso que é a cozinha de qualquer escritor. Depois, é escrever um resumo pequeno, de umas 20 páginas, e ver se tudo está funcionando bem. O resto é o que se sabe: escrever, escrever. A inspiração, essa, já passou.

L&PM – De todos os seus romances, qual o seu personagem favorito? Por quê?

Assis Brasil – Eis uma pergunta interessante. Não vou dizer que todas minhas personagens são favoritas; há algumas que escrevo com muita dificuldade, não porque são desagradáveis ou contrárias a mim, mas porque não soube criá-las bem, estabelecendo uma defasagem entre o imaginado e o criado. Quando consigo "acertar a mão", essa personagem me encanta. Claro que não parto da idéia esquizofrênica de que a personagem possui uma vida independente de mim – pois uma personagem sempre será uma criatura do escritor –, mas é inegável que algumas são mais simpáticas: eu as fiz assim. Não devemos misturar os limites: ficção é coisa sempre inventada, não existe por si.

L&PM – Fale-nos um pouco sobre o seu trabalho na Oficina de criação literária.

Assis Brasil – Dá-me muito prazer contemplar esses 23 anos de atividade ininterrupta com a Oficina. Tenho recebido alunos que nasceram depois que a Oficina já existia. Isso é bonito, é belo, isso justifica uma vida. E isso não me dá o menor trabalho, porque o faço com alegria. Mais feliz ainda me deixa quando um ex-aluno publica seu livro próprio; e já são 174 os livros publicados por eles. Vários já são publicados no exterior e igualmente vários são os que receberam os maiores prêmios nacionais e internacionais.

L&PM – Algum projeto novo em andamento?

Assis Brasil – Por enquanto, estou saindo da fase do caos, e já tenho personagens, espaços, tempos, histórias. Logo escreverei um resumo e começarei a escrever o romance a que chamo de Figura na Sombra.