05/08/2009
- Por L&PM Editores
Nani é um dos maiores cartunistas do país. Ele personifica uma geração que se formou na resistência à ditadura militar; um tempo em que a sobrevivência era bem difícil para quem não dizia amém aos militares. Seu humor está impregnado de ironia, ceticismo e indignação. E muita inteligência. É um iconoclasta por princípio e não se esconde atrás da piada pronta. Se é pra dar porrada, lá vai! Humor barra pesada é seu mais recente lançamento na Coleção L&PM POCKET, onde ele já publicou Batom na cueca, É grave, doutor?, Foi bom prá você?, Humor politicamente incorreto e Orai Pornô. Em formato convencional a L&PM Editores editou o álbum Humor politicamente incorreto, uma versão bem ampliada do livro homônimo publicado na Coleção L&PM POCKET. Abaixo Nani responde a perguntas feitas pelo site www.lpm.com.br:
Dá pra explicar "humor barra pesada"?
Esse tipo de humor gráfico, o barra pesada, assim como a ararinha-azul e o mico-leão-dourado, está quase em extinção; sumiu da paisagem. Uma maneira de mostrar que ele aqui gorjeia é mostrá-lo através de livros ou na internet. A L&PM é uma reserva que abrigou o humor que gosto de fazer. É no cativeiro das páginas dos livros que meu humor está se reproduzindo, para alegria da nova geração que passa, então, a conhecê-lo; e dos meus leitores que sabem onde encontrá-lo.
Por que este fascínio pelo politicamente incorreto?
Eu não tenho fascínio, eu tenho ojeriza do politicamente correto, porque ele é a censura que não ousa dizer o nome. Está matando as manifestações populares, a cultura que herdamos e que o povo pratica sem papas na língua. O politicamente correto não é uma exigência do povão e sim de grupos corporativos que exercem seu pequeno e arrogante autoritarismo que, às vezes, é apenas um estratagema para fugir da crítica e da transparência. Se todo artista tem que ir aonde o povo está, com certeza o povo não está do lado do politicamente correto. Humor é crítica e alegria. O riso é um bem democrático e não deve ter cabresto, humor que tem que pedir licença não é humor.
Você viveu os tempos gloriosos do Pasquim, década de 70, uma época em que o humor era uma das poucas formas de cutucar a ditadura. Você acha que a quantidade e a qualidade da produção está melhor ou pior em relação àquele período?
O humor em época de ditadura tem que ser militante em prol da liberdade; o humor que fazíamos era para iluminar o que se passava nas sombras. Nessa época o humor pelo humor era até visto como alienação, mas nós o fizemos também, pois, já que a ditadura proibia a política, mas incentivava a pornografia, nós nos enfiamos nessa brecha (sem trocadilho), metendo nossa cunha para abrir esse flanco: fazer rir, já que rir era quase subversivo. Depois da ditadura, o cartum – barra pesada ou não – sumiu do mapa. A charge política continua a ser feita nos jornais, mas ela já não é a charge porrada que a gente fazia na época da ditadura. A charge hoje, às vezes, é só uma ilustração do noticiário, não mais a charge de opinião.
Sou a favor da charge porrada, mas essa os jornais não publicam mais. Acho que os editores que gostavam de desenho de humor se aposentaram, e a nova geração que entrou nas redações baniu cartuns e charges das publicações. Com isso os jovens que ainda lêem jornais não conhecem a arte do cartum que foi praticada com liberdade total e irreverência. Hoje o cartum vem surgindo timidamente na internet e quem se interessa o encontra em livros ou nos blogs. Comprem meus livros, acessem meu blog: http://nanihumor.blogspot.com.
Você tem feito nos seus livros na Coleção L&PM POCKET um mix de cartum & texto. Como é esse seu lado "narrador"?
Eu, como bom mineiro, sou um contador de histórias e de causos. Há um tipo de texto de humor que gosto de fazer e que só funciona por escrito. Nada de contos elaborados, apenas uma pequena história levada pela aragem leve do humor, nada de texto recheado de piadinhas e frases de efeito, não uma crônica recheada de achismos e opiniões. Gosto de chamar esses textos de “histórias encolhidas”.
Fale um pouco sobre como surgiu o Nani cartunista, o que você anda fazendo e quais são seus projetos.
Aos treze anos, em Esmeraldas (MG), eu via uma revista de piadas (os cartuns todos eram estrangeiros) chamada Vamos Rir quando me deu um estalo e eu disse: “Isso eu sei fazer”. Na mesma hora sentei e fiz o meu primeiro cartum: dois piratas com ganchos nas mãos. Um dizia para o outro: “Conheço essa região como a palma da minha mão.” E desse dia em diante fui fazendo cartuns sem parar. Via muito o Millôr e o Carlos Estevão em O Cruzeiro e desenhos de Henfil que começava a publicar em Minas. Uma senhora inglesa que foi morar em Esmeraldas me presenteou com dezenas de revistas Punch e conheci os craques europeus. Em 1971, em Belo Horizonte, eu, com vinte anos, comecei a publicar no jornal O Diário. Minhas charges chamaram atenção de um editor que me levou para o Rio de Janeiro. O Henfil me introduziu no Pasquim e de lá deslanchei desembestando a publicar em várias revistas e jornais, o que faço até hoje.
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