Coleção L&PM Pocket


"Chefe de estado não deve ser chefe de partido. "

Napoleão Bonaparte

MANUAL DO LÍDER

MANUEL DU CHEF

Napoleão Bonaparte

Tradução de Julia da Rosa Simões

R$26,90

Com prefácio e seleção de frases de Jules Bertaut, a L&PM POCKET publica o livro de aforismos de Napoleão Bonaparte. O Manual do líder reúne os conselhos do famoso imperador, separados por tópicos: 'O líder', 'Da França para os franceses', 'O autoritário e o político', 'Como organizar a nação?', 'Como organizar o exército?', 'A guerra e seu comando' e 'Os diplomatas e o exterior'.

“Do triunfo à queda é apenas um passo.”

 “A maioria dos homens, inclusive dos grandes homens, só sabe ousar pela metade.”

“A coragem não pode ser simulada: é uma virtude que escapa à hipocrisia.”

“A indecisão e a anarquia nas causas levam à anarquia e à fraqueza nos resultados.”

“A melhor maneira de manter sua palavra é nunca dá-la.”

“Nada é mais difícil do que decidir-se.”

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Informações Gerais

  • Título:

    MANUAL DO LÍDER

  • Título Original:
    MANUEL DU CHEF
  • Catálogo:
    Coleção L&PM Pocket
  • Gênero:
    História
  • Referência:
    869
  • Cód.Barras:
    9788525420176
  • ISBN:
    978.85.254.2017-6
  • Páginas:
    160
  • Edição:
    maio de 2010

Vida & Obra

Napoleão Bonaparte

Napoleão Bonaparte nasceu em Ajaccio, capital da Córcega, em 15 de agosto de 1869. Aluno brilhante aos 16 anos formou-se como oficial de artilharia. Aderiu a Revolução Francesa em 1789 e em 1793, depois de liderar a retomada de Toulon aos ingleses, foi promovido a general de brigada. Tinha 24 anos e era o mais jovem general do exército francês. Aos 27 anos, em 1896, tornou-se comandante-em-chefe do Grande Exército depois de derrota...

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Opinião do Leitor

Carter Batista
Brasília/DF

Faróis do Século

Honoré de Balzac, “o grande criador da humanidade”, talvez tenha sido um dos primeiros escritores a enxergar o potencial literário dos axiomas extraídos das cartas, discursos e proclamações de Napoleão no decorrer de sua gloriosa carreira.

Conta-se que Balzac mantinha um busto de Napoleão em sua mesa de trabalho, sob o qual escreveu “O que ele começou com a espada concluirei com a pena”. Sob essa portentosa fonte de inspiração, durante longos sete anos, o autor de “Ilusões Perdidas” colheu as frases, máximas e pensamentos do grande homem e os depositou em um “caderno de cozinha”, segundo expressão utilizada pelo próprio escritor em carta de 10 de outubro de 1838 enviada à Madame Hanska.

Na referida correspondência, Balzac conta que, “em um momento de dificuldade, estando sem dinheiro” vendeu o trabalho a um comerciante local que desejava agradar o rei Luis Felipe. Com a publicação, o comerciante J. L. Gaudy Jeune esperava conseguir a Cruz da Legião de Honra [1]. Nessa edição, que atualmente, depois de devidamente restituída a Honeré de Balzac, é publicada sob o título “Napoleão: Máximas e Pensamentos” o organizador original, o célebre autor de “A Comédia Humana”, houve por bem separar os aforismos pelas diversas fases da vida de Napoleão, por saber que qualquer estudo biográfico do grande corso implicaria entender os diversos papeis por ele representados, pois, “o terrorista de 93 e o generalíssimo ficaram absorvidos pelo imperador, o governante desmentiu com freqüência o governado, mas as palavras contraditórias que as frequentes crises lhe arrancaram, sim, revelam admiravelmente a enorme luta a que esteve condenado” [2].


Nada obstante, a obra ora comentada, organizada por Jules Bertaut [3] trata apenas de um aspecto possível da personalidade de Napoleão, qual seja a liderança. Dessa forma, as máximas e excertos selecionados possuem em comum o fato de exprimirem o prisma do líder, seja sobre a própria liderança e a melhor forma de executá-la, seja sobre os liderados e a melhor forma de mantê-los sob controle. Naturalmente, deve-se considerar, como de fato Bertaut considerou, que Napoleão foi um Líder em diversos seguimentos, por exemplo: general, chefe de governo, chefe de estado, etc.

As sentenças proferidas por Napoleão encerram em si uma moralidade singular, unicamente por conterem o grave acento de sua inigualável trajetória. Tanto que seria pouco notada (ou tida por ridícula) a manifestação de qualquer outro que, lendo “O Príncipe”, ousasse contrariar Maquiavel quando ele diz que não se pode evitar uma guerra, mas, quando muito, apenas adiá-la. Napoleão, porém, possui legitimidade para se contrapor à conclusão do florentino asseverando categoricamente, como quem dá uma ordem: “perante o primeiro indício de descontentamento, declare guerra; conhecida a rapidez da decisão, isso tornará prudentes os inimigos [4].” Tal declaração, provinda de Napoleão é precedida pela certeza de que muitas vezes ele contrariou Maquiavel não apenas em uma nota de leitura, mas, antes, pondo em prática as ações fundadas nos princípios inescrutáveis do gênio.

Para Euclides Mendonça, que dedicou um estudo ao que chamou de “A Força do Estilo de Napoleão”, o conhecido orgulho do Imperador é um dos traços que “se sublinham em cada frase de seus escritos”, dando forma à característica invulgar de seu discurso. Esse orgulho, tantas vezes exagerado pela perfídia de seus detratores, segundo o professor Mendonça decorre de três fontes: (i) de Brienne, a escola militar, onde o amor próprio malferido do jovem corso ao invés de se arruinar “adquiriu têmpera infrangível”; (ii) da consciência plena que ele tinha do próprio valor; e (iii) da glória, que fez com que Napoleão sucumbisse “às vertigens das alturas” [5].

Em alguns dos aforismos organizados na obra ora comentada por Bertaut, todas essas características ocorrem nitidamente, vejamos:

É preciso estar bastante alheio à marcha do gênio para acreditar que ele se deixa esmagar pelas formas. As formas foram feitas para a mediocridade; é bom que só possa se mover dentro de um círculo das regras. O talento alça voo, não importa quantos entraves o cerquem. [6].

Por outro lado, no livro de Bertaut, além dos axiomas e das curtas e impactantes sentenças do Imperador, há a transcrição de cartas e proclamações. Gostaria que o organizador houvesse se preocupado em indicar o destinatário da carta ou a ocasião e a data dos discursos e proclamações, mas infelizmente isso só foi observado em relação a pouquíssimos casos. Em alguns poucos casos fui capaz de deduzir que se tratava de uma carta à Murat, porquanto dirigida ao Rei de Nápoles. Em outros casos, igualmente escassos, foi possível inferir que o destinatário fosse Joseph Bonaparte, eis que aludia ao Reino de Espanha. Em muitos outros, porém, na grande maioria deles, o destinatário permaneceu incógnito.

De mais disso, muitos aforismos contém certa fatalidade, certo vaticínio sobre o futuro da Europa, certo olhar para o futuro levado a efeito por Napoleão, de maneira que à época de Balzac era possível dizer tranquilamente que a maioria deles se efetivara, tanto que o autor de “Mulher de Trinta Anos” não se furtou a afirmar que Napoleão, do fundo de seu sepulcro, combatia, ainda, contra a Inglaterra. Aqui vemos um bom exemplo:

A guerra se tornará um anacronismo. Travamos batalhas em todo o continente porque duas sociedades coexistiam, a que data de 1789 e a do Antigo Regime; elas não podiam sobreviver juntas; a mais jovem devorou a outra. Sei muito bem que, no fim das contas, a guerra me derrubou, a mim, representante da Revolução Francesa e instrumento de seus princípios, mas pouco importa!, foi uma batalha perdida para a civilização; a civilização, acreditem, se vingará. Existem dois sistemas, o passado e o futuro; o presente não passa de uma penosa transição. Quem triunfará? O futuro, não é mesmo? Pois bem, o futuro é a inteligência, a arte e a paz; o passado era a força bruta, os privilégio e a ignorância; cada uma de nossas vitórias foi um triunfo das ideias da Revolução. As vitórias um dia se completarão sem canhões nem baionetas. [7].

Uma visão bastante nobre e muitíssimo legítima, ainda que, anos mais tarde, Nietzsche, partindo de premissas que Napoleão não pode viver para sabê-las, tenha feito uma análise e um prognóstico diferentes:

Nossa crença numa virilização da Europa. – Devemos a Napolão (e de modo algum à Revolução Francesa, que visou a “fraternidade” dos povos e floridas efusões universais) o fato de agora poderem sobrevir alguns séculos guerreiros sem paralelo na história, em suma, o fato de havermos entrado na era clássica da guerra, da guerra instruída e ao mesmo tempo popular na maior escala (dos meios, dos talentos, da disciplina), para a qual os séculos vindouros olharão com inveja e reverência, como algo perfeito: – pois o movimento nacionalista do qual surge esta glória guerreira é apenas o contragolpe a Napoleão e não existiria sem ele. Logo, a ele se poderá um dia creditar que o homem na Europa tenha novamente predominado sobre o negociante e o filisteu; talvez até sobre a “mulher”, que foi mimada pelo cristianismo e pelo espírito entusiasta do século XVIII, e mais ainda pelas “ideias modernas”. Napoleão, que nas ideias modernas e na civilização mesma via como que inimiga pessoal, provou ser, como essa hostilidade, um dos grandes continuadores da Renascença: ele fez novamente aparecer toda uma parte da natureza antiga, aquela talvez decisiva, a parte de granito. E quem sabe se este quê da Antiguidade não irá enfim predominar de novo sobre o movimento nacionalista e não se tornará, afirmativamente, senhor e continuador de Napoleão: – que queria uma Europa única, como se sabe, e senhora da Terra. [8].

As Grandes Guerras Mundiais de 1914 e 1945, de fato, confirmaram as previsões do filósofo, porém, as inovações tecnológicas, como se sabe, proporcionaram carnificinas sem precedentes e obnubilaram essa áurea de glória em torno das ações de guerra. Com efeito, hoje em dia, vivemos em uma sociedade global, ainda que de forma ineficaz, mais inclinada a solucionar os conflitos de interesse da forma antevista por Napoleão, ou seja, "sem canhões nem baionetas".

E o que hoje em dia, passados quase 200 anos do fim do primeiro império francês, ainda seduz os leitores e desperta o interesse pelas palavras de Napoleão, tornando tão atraente e recomendável um livro como este organizado por Jules Bertaut, não é apenas o tipo de fatalismo presente em construções como a acima transcrita (e contraposta por Nietzsche). Conforme já dito, o líder em Napoleão é indissociável do corso, do revolucionário, do general, do conquistador, do legislador, do escritor, do organizador, do monarca. O Vencedor de Austerlitz e de Marengo é o mesmo homem que criou o Código Civil e que discutiu política com Sieyes, arte com Canova e literatura com Goethe. Outrossim, frente a qualquer dos aforismos reunidos na obra não se pode deixar de evocar toda a tragédia napoleônica, sua ascensão, apogeu e queda. Principalmente a dramaticidade de sua queda e de sua prematura e misteriosa morte no exílio.

Por fim, cumpre notar que o Moderno Prometeu soube encontrar as mais belas palavras para descrever o seu último ato, ao apregoar que "Les hommes de génie sont des météores destiné à brûler pour éclairer leur siècle."

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[1] A Ordre National de la Légion d'Honneur, a condecoração honorífica que ainda hoje é a ordem máxima concedida pela Nação francesa, foi instituída pelo próprio Napoleão em 1802.

[2] Os excertos e referências ao livro de Balzac se encontram em: BONAPARTE, Napoleão. in: BALZAC, Honoré de (Org.): Napoleão: Máximas e Pensamentos. Tradução de José Dauster. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995. Título original: Maximes et Pensées de Napoléon.

[3] Jules Bertaut (1877-1959) foi um escritor, historiador e conferencista francês. Pelo conjunto de sua obra, em 1959, recebeu o Gran Prix de littérature da Société dês gens de lettres de France.

[4] MACHIAVELLI, Niccolò. O Príncipe. Tradução de Cândida de Sampaio Bastos. Notas e comentários de Napoleão Bonaparte e da Rainha Cristina da Suécia. São Paulo: DPL, 2008, p. 63.

[5] MENDONÇA, Euclides. A Força do Estilo de Napoleão. 2. ed. Brasília: Tesaurus, 2008, p. 49.

[6] BONAPARTE, Napoleão. in: BERTAUT, Jules (Org.): Napoleão Bonaparte: Manual do líder. Tradução de Júlia da Rosa Simões. Porto Alegre: LP&M, 2010, p. 20-21. Título original: Manuel du chef: Aphorismes chosis et préfacés par Jules Bertaut.

[7] BONAPARTE, Napoleão. in: BERTAUT, Jules (Org.): Napoleão Bonaparte: Manual do líder. Tradução de Júlia da Rosa Simões. Porto Alegre: LP&M, 2010, p. 142. Título original: Manuel du chef: Aphorismes chosis et préfacés par Jules Bertaut.

[8] NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Tradução, notas e prósfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 264. Título original: Die fröhliche Wissenschaf. La gaya scienza.

[9] "Os gênios são meteoros destinados a queimar para iluminar seu século". in: MENDONÇA, Euclides. A Força do Estilo de Napoleão. 2. ed. Brasília: Tesaurus, 2008, p. 52.

http://soldeausterlitz.blogspot.com/2010/12/napoleao-bonaparte-manual-do-lider.html

27/12/2010

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