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Eduardo Galeano fala com exclusividade sobre As veias abertas...

06/10/2010

- Por L&PM Editores

Por Carolina Marquis

O relançamento de um livro é, para um autor, o momento de rever sua obra, entender o seu passado e, algumas vezes, retratar-se com a própria história. O livro As veias abertas da América Latina foi, para Eduardo Galeano, o ponto de partida para uma carreira na literatura engajada com o meio social em que está inserido. Com este livro, ele tornou-se conhecido em diversas partes do mundo. Proibido pelas ditaduras militares, As veias... conta a história da parte mais ao sul da América, lado explorado pelos colonizadores que aqui aportaram. Quase quarenta anos depois do lançamento da primeira edição, o livro, que já foi traduzido para mais de vinte e cinco países, ganha nova edição brasileira na L&PM Editores, em versão pocket e convencional. Com nova cara, nova tradução – feita pelo escritor Sergio Faraco -, índice analítico e uma nova introdução de Galeano, As veias abertas da América Latina conta uma história que ainda – e espera-se que não para sempre – é atual. Lírico e politizado, Eduardo Galeano nos concedeu uma entrevista exclusiva, direto de Montevidéu, onde vive. Confira.

 

Jorge Volpi, no jornal El País, disse que “As veias abertas da América Latina é uma bomba literária que muito provavelmente Obama não leu, mas deveria”. Você concorda com essas afirmação?

Não acredito que ele tenha tempo. Imagino que Obama deve andar muito ocupado com as guerras que herdou: Iraque, que os Estados Unidos converteram em um manicômio, e Afeganistão, que está se tornando um cemitério.

 

Há quarenta anos, foi lançada a primeira edição de As veias abertas da América Latina. Qual é a sua sensação ao ver que hoje o livro ainda é atual e faz um retrato da vida nos países em desenvolvimento?

Eu adoraria que o livro estivesse encerrado em um museu de arqueologia, entre outros objetos de tempos passados. Como isso não acontece, suponho que, lamentavelmente, a realidade não mudou muito.

 

Qual era o sentimento que tinhas enquanto escrevia o livro As veias abertas da América Latina?

O único que quis foi ajudar a difundir dados pouco conhecidos, que indicam que a nossa região se especializou em perder desde que foi invadida e obrigada a trabalhar para a prosperidade alheia.

 

Você é um cronista de seu tempo. Em As veias abertas da América Latina, você retrata uma América pobre, suja, sem pai nem mãe. Caso este livro fosse escrito hoje, o retrato da América ainda seria esse?

Para mim, este livro sempre foi um porto de partida, não um porto de chegada. A partir deste livro, outros nasceram, abrindo outros espaços de exploração da realidade. Afortunadamente, a realidade não termina na economia política.

 

As veias abertas da América Latina enervou ainda mais as ditaduras da América Latina. Qual é, para um escritor, a sensação de ver sua obra repercutir desta forma?

Eu agradeço às ditaduras militares. Este livro foi proibido em vários países e, a partir de então, foi lido. As ditaduras o elogiaram no momento em que o proibiram. Antes disso, nem a minha família o tinha lido.

 

Em sua opinião, a história da América Latina poderia ter sido outra?

Não sei. Mas, sim, sei que a realidade pode ser outra. Cada mundo contém outros mundos na barriga.

 

Qual é o principal sentimento que, atualmente, pulsa nas veias da América Latina?

Uma tremenda vontade de inventar o futuro em lugar de padecê-lo.