Vida & Obra


Daniel Pennac

Daniel Pennac nasceu em Casablanca, Marrocos, em 1944, e é filho de um oficial francês que servia nas colônias do país. É professor de língua francesa em uma escola em Paris e um apaixonado pela pedagogia. Entre seus livros estão O paraíso dos ogros, A pequena vendedora de prosa (vencedor do prêmio Inter do Livro de 1990), Senhor Malaussène e Frutos da Paixão. Outros títulos do autor lançados no Brasil são Esses senhores os meninos, Kamo e a Agência Babel, Kamo e a idéia do século, O olho do lobo e Vira-lata virador. Pennac é um ardoroso aficionado do Brasil desde que morou em Fortaleza, por dois anos, na década de 1980. Em 2007, recebeu o prestigioso prêmio Renaudot por Diário da Escola.

Mais livros de Daniel Pennac


Opinião do Leitor

Ariadne Oertel Azevedo
Pelotas, RS

Emoção e motivação inundam Como um romance do início ao fim. Pennac escreve um “sensibilíssimo ensaio”   para contar sua vivência do “alto de sua experiência de professor”  .
Dentro de suas páginas correm memórias quase tão próximas quanto às próprias memórias de seu leitor. A identificação é imediata do início ao fim e catalisa, com sua escrita, não só desejo por continuar lendo, mas também por mais leituras. Contadas como em um grande romance, essas memórias provocam mais do que uma leitura prazerosa, causam efeitos em qualquer leitor uma enorme motivação de ler.
Ler Como um Romance é retomar e refletir sobre a sua própria situação de leitor e entender a sua história de alquimista em formação.
Pennac parece propor uma reflexão através de experiências comuns a todos os leitores, torna-se universal. Fala de uma existência comum, de nossa condição humana.
Quem chega até ele, seja por obrigatoriedade ou por acaso, traz à sua consciência momentos que lhe formaram leitor e assim começa o processo de identificação.
Em cada página o autor mostra seu vasto conhecimento literário sem se tornar pedante. A articulação de seus pensamentos, tão bem expressos, faz com que o leitor descubra que o processo não foi árduo apenas para si, mas que as dificuldades pelas quais passou são comuns a todo ser humano.
Aluno, pai, professor, pedagogo, leitor em formação ou formado, leitor preocupado em transformar-se ou transformado, é para esses que Daniel Pennac escreve. Impossível lê-lo sem esbarrar por acaso com, pelo menos, uma forma de se reencontrar com sentimentos perdidos em uma memória distante de leituras gratuitas.
Como um romance toma a forma das memórias do leitor, fazendo-o retomar a paixão pela leitura ou, aguçar sua curiosidade para a pesquisa de inúmeras leituras nele citadas. Toma forma de um guia para a retomada de suas leituras ou para o entendimento de quando, como e porque foi perdida essa paixão.
O poder de alquimista de Pennac vai além da escolha certa de palavras, como diz a tradutora em nota inicial do livro. Ele tem a compaixão de quem conta uma história triste e já a experienciou, a felicidade de quem viveu a dor e a angustia de quase se perdeu da leitura, e reencontrou o caminho dos livros, dos personagens do mundo literário. Ele é um alquimista e sua obra um catalisador para auxiliar o leitor em busca de sua própria pedra filosofal.  
Uma obra realmente bela com o mais profundo aroma que a palavra bela possa exalar, e Pennac seu perfumista.
Ele usa fatos, lembranças e reflexões quase aromáticas de tão próximas ao leitor. O propósito é despertar em seu leitor uma memória quase olfativa de suas próprias experiências como leitor. O leitor consegue então, o entendimento da composição química de cheiros que lhe levaram para longe da leitura. Seus extratos de sofrimento, seus relatos aromáticos de amplas emoções mostram sua essência humana comum a todos. Impossível ao leitor atento não se identificar com, pelo menos, um punhado das suas rememorações, experiências e reflexões. Pennac faz questão de exemplificar seus relatos com outros tantos autores, tão maravilhosos quanto ele próprio, transformando o livro em um guia para renascimento de qualquer alquimista.
Uma obra assim não poderia ter sido escrita somente para relatar experiências. Ele compartilha sua experiência como ser humano. Fala de um dos fatos problemáticos da condição humana e expõe isso de forma tão apaixonada que tenta fazer renascer em seu leitor a transformação, o crescimento que se encontra na leitura.

25/05/2010