Memorial de Isla Negra, publicado em 1964, por ocasião do sexagésimo aniversário de Pablo Neruda, é, junto a Canto geral, um livro central na obra do poeta. No título, faz-se uma homenagem à cidadezinha de pescadores próxima a Valparaíso, onde, em 1939, ele comprou a casa em que viveria com a mulher Mathilde Urrutia até a sua morte, em 1973. São memórias em forma de verso e, como tal, não poderiam deixar de se referir ao mar, elemento primordial na obra do autor. Se em Canto geral a tônica é política e profundamente histórica, em Memorial temos a versão mais íntima do poeta chileno, que em seus poemas desvela a incansável indagação da própria substância espiritual, tateia sua geografia interior – na qual o amor ocupa lugar central, fazendo as vezes de raízes. E, ao fazê-lo, canta também as angústias e preocupações do homem localizado no mundo, mundo que ele sente e de cujos acontecimentos participa. Trata-se de um livro requintado, urdido pela mais alta alta voz da poesia latino-americana, um homem rico e ambíguo, que canta com vozes ao mesmo tempo novas e antigas a própria vida e as questões do ser humano.
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