31/03/2010
- Por L&PM Editores
Só um francês, em cada cinco, lerá na tela
Mohammed Aïssaoui
O prazer de folhear as páginas de um livro não desaparecerá no futuro, segundo uma pesquisa realizada na França. Somente 22% das pessoas consultadas pretendem ler, futuramente, um romance ou um ensaio em e-book.
”O papel está morto!”. É o que nos dizem os meios de comunicação, pelo menos umas dez vezes por dia. Le Figaro littéraire resolveu investigar a fundo esta questão. Com o Instituto OpinionWay, fizemos uma sondagem junto aos franceses sobre este tema, baseados em duas perguntas simples. A primeira: “Hoje, sobre que suporte você lê mais frequentemente um livro?”. A segunda, questionava os franceses sobre a opção de suporte para leitura que ele imaginava utilizar no futuro.
Primeira constatação flagrante: não, o papel não está morto, e parece mesmo que, aos olhos do público leitor, ainda tem um grande futuro. Mais de nove franceses entre dez consultados lêem hoje um livro na sua versão mais clássica: o velho e bom papel. Estes números são muito importantes, é a primeira vez que um instituto de pesquisa de credibilidade investiga as preferências de suportes de leitura por um público maior de 18 anos. Certamente a leitura em suporte digital tende a evoluir. Por isso não nos detivemos somente ao momento atual e fizemos uma segunda pergunta relativa ao futuro.
E a resposta a esta segunda questão foi muito significativa: quatro franceses em cinco pensam que devorarão livros no futuro em versão papel. Na questão digital, a prioridade será na tela do computador (11%) e em e-book (7%). Apenas 2% acham que lerão um romance ou um ensaio num telefone celular e a mesma percentagem acredita utilizar audiolivros interpretados por atores. O significativo é que existe uma larga maioria resistente a qualquer idéia de ler sobre uma tela, seja ela qual for; 77% dos franceses se imaginam nos próximos anos continuando a folhear páginas e páginas de livros.
Esta pesquisa destrói com algumas verdades tidas como absolutas: não há uma distinção geracional. E no terreno da leitura, as mulheres são mais “tecnófilas” do que os homens (15% das mulheres contra 8% dos homens).
Última constatação, enfim. Os franceses não pensam em termos maniqueístas – o papel contra o digital. Ao contrário, pelas respostas concluímos que os diferentes suportes conviverão sem nenhum problema. Já é o caso atualmente: um quarto das pessoas consultadas afirma que, como segundo suporte, optariam por uma leitura na tela do computador e que apreciariam escutar um romance lido por um ator e gravado num CD.
Um período de indefinições
Se o futuro pertence então às novas tecnologias, as editoras, como as livrarias tradicionais, podem se tranquilizar. O papel está longe de estar morto. Mas, como enfatiza Isabelle Laffont, diretora da Éditons JC Lattès, o período é de indefinições. Ela diz que, no presente, não existe um mercado capaz de sustentar o livro digital. Fato sintomático, pois obter números de venda de livros digitais é uma tarefa cujo grau de dificuldade é digno do jornalismo investigativo. A verdade é que a versão digital de Primeiro dia e Primeira noite, os dois últimos romances de Marc Levy (um sucesso fenomenal de vendas em livrarias) foi um verdadeiro fiasco sob a versão digital.
É a mesma constatação para todos os outros autores de sucesso que tiveram versões em livro digital. Mas isto não impede que haja uma verdadeira corrida em torno dos direitos digitais. Assim, os direitos digitais da obra de Marc Levy não pertencem à editora Robert Fallont, sua editora em papel. Do ponto de vista dos audiolivros (nossa pesquisa aponta que eles tem um certo futuro), Valèrie Lévy-Soussan, diretora da Autolib (editora de audiolivros) reconhece que no momento “na França, o mercado de audiolivros representa apenas 1% do total, enquanto nos EUA é 10%. Mas nós temos uma alta taxa de aprovação em todas as idades”. O nível de vendas é ainda embrionário. Em torno de 4 mil a 5 mil exemplares de audiolivros vendidos são de romances que, nas livrarias, passaram dos 100 mil exemplares.
O mundo das letras espera com impaciência o iPad da Apple – este computador de mão onde se poderá também ler livros –, se fala inclusive em “revolução”. Para o escritor e roteirista Claude Carrière, que segue a evolução do livro há meio século, estas avaliações não servem de grande coisa; “o futuro é sempre imprevisível!”, diz ele.
Leia aqui o texto original em francês
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