Marcel Proust
Nasceu no bairro de Auteil, em Paris, a 10 de julho de 1871, em meio aos bombardeios da guerra franco-prussiana. Seu pai, Louis Proust, era um grande cirurgião e professor de medicina agraciado com a Legião da Honra, e sua mãe, Jane Weil, era de uma cultivada família burguesa judia parisiense. Criança de saúde frágil, Marcel estudou primeiramente no Liceu Condorcet, freqüentado por filhos de famílias ricas. Aos nove anos, manifestou a doença que o perturbaria até a morte: a asma. Fez um ano de serviço militar, chegou a se matricular na Escola de Direito e na Escola de Ciências Políticas, mas acabou por se licenciar em Letras na Sorbonne. Em 1895, trabalhou como voluntário na Biblioteca Mazzarine (a mais antiga biblioteca pública da França). No início da década de 1890, flertou com o jornalismo, fundando a revista Le Banquet e publicando alguns textos em outros periódicos, como La revue blanche.
Os primeiros textos de Proust – pequenos relatos e poemas em prosa – foram reunidos com prefácio de Anatole France sob o título de Les plaisirs et le jours (O prazer e os dias), em 1896, e valeram-lhe a reputação de mundano. Em 1895, Proust iniciou, sem no entanto terminar, um vasto romance autobiográfico, Jean Santeuil (publicado postumamente, em 1952), considerado um esboço daquela que seria sua grande obra, À la recherche du temps perdu (Em busca do tempo perdido).
A morte do seu pai, em 1903, fez tornar-se mais assídua a presença de Proust nos círculos da sociedade parisiense; já a da sua mãe, em 1905, fê-lo afastar-se das atividades sociais. Ambas perdas foram cruciais na vida do escritor. Após uma temporada em uma casa de saúde, devido sobretudo a crises asmáticas que lhe obrigavam a uma quase total reclusão, Proust instalou-se no apartamento dos pais, no Boulevard Haussmann, onde mandou preparar o seu famoso quarto com paredes revestidas de cortiça para reduzir a propagação de ruídos.
Os esboços do que viria a ser Em busca do tempo perdido se multiplicaram. Em 1908, ele redigiu as páginas que seriam o verdadeiro início do romance, embora ainda hesitasse quanto à forma a ser dada ao projeto. Escreveu, nesse meio-tempo, Contre Sainte-Beuve, em que rebatia a visão crítica do então célebre crítico literário francês Saite-Beuve – calcada na vida dos escritores –, pois para Proust o “eu profundo” do artista nada tem a ver com sua existência mundana. O livro, entretanto, não encontrou editor, e Proust ficou livre para tocar seu projeto romanesco.
A partir de 1909, ele projetou o início e o fim do livro: o último capítulo do último volume foi escrito imediatamente após o primeiro capítulo do primeiro volume. Tudo o que há no meio foi escrito depois. Em 1912, ele tentou, novamente, ser publicado. Tinha setecentas páginas datilografadas, intituladas Le temps perdu (O tempo perdido), que representavam, aos seus olhos, metade do ciclo romanesco. Três editoras francesas, entre as quais a reputadíssima Gallimard, cujo editor era então o também escritor André Gide, recusaram o romance, até que Bernard Grasset o aceitou, mas somente às expensas do autor. Proust imaginava um díptico: Temps perdu/ Temps retrouvé (Tempo perdido/ Tempo reencontrado), sob o título geral de Les intermitences du coeur (As intermitências do coração). Mas o livro ainda sofreria mudanças antes de ser publicado. Du côté de Chez Swann (No caminho de Swann) surgiu em novembro de 1913. Nessa época Proust vivia acontecimentos que perturbariam a seqüência do romance e fariam nascer o “ciclo de Albertine” (ou seja, La prisonnière e Albertine disparue, introduzidos por Sodome et Gomorrhe), um bom terço da Recherche, que não estava previsto inicialmente. Trata-se da morte acidental, no verão de 1913, de Alfred Agostinelli, que partilhava do apartamento de Proust na qualidade de motorista e que fizera nascer no escritor um intenso ciúme – sentimento esse que seria explorado em vários pontos de Em busca do tempo perdido, e mais especificamente, na parte intitulada Um amor de Swann.
A editora Gallimard, reconhecendo seu erro de avaliação, convenceu Proust a abandonar seu primeiro editor e recomprou os direitos para publicar Du côté de Chez Swann, assim como À l’ombre des jeunes filles en fleur, que foi impresso durante o armistício e colocado à venda em junho de 1919. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) deu sua contribuição à literatura e mais especificamente ao livro de Proust: durante o decorrer do conflito, o lado cômico e romanesco, às vezes até mesmo rocambolesco, foi muito desenvolvido, e a homossexualidade tornou-se um dos assuntos principais.
Proust tornou-se um escritor conhecido e reconhecido, sobretudo depois que À l’ombre des jeunes filles en fleur ganhou o prêmio Goncourt, em novembro de 1919. Seus últimos anos de vida foram de intensa luta contra a doença e a ameaça de morte. Mas ele não abandonou suas febris atividades mundanas e literárias, publicando ainda Pastiches et mélanges (1919), que reúne textos e prefácios. Proust foi nomeado Cavalheiro da Legião da Honra e chegou a pensar na Academia Francesa de Letras, enquanto uma nova geração de escritores o admirava como um grande mestre: Jean Cocteau, Jean Giraudoux, François Mauriac, entre outros. Ele queria publicar de uma só vez todo o restante da Recherche, mas Le Côté de Guermantes, o terceiro dos sete volumes, é publicado em duas partes em 1920 e 1921, sendo a segunda delas seguida da primeira parte de Sodoma e Gomorra. Proust escreveu, também, vários artigos de crítica sobre Flaubert (1920) e Baudelaire (1921). A segunda parte de Sodoma e Gomorra é publicada em abril de 1922, quando Proust teria confiado à Celeste (sua célebre governanta, que cuidou dele até a morte) a escrita da palavra fim. Não conseguiu terminar de revisar as provas de A prisioneira; ditou, apenas, algumas alterações para a sua criada.
Morreu em 18 de novembro daquele mesmo ano, de uma gripe não-tratada que evoluiu para uma pneumonia. Albertine disparue e Le temps retrouvé apareceriam em 1925 e 1927, respectivamente. Como resultado de um ciclo de mais de vinte anos entre o início da redação e o término da publicação do romance, tem-se uma obra estruturalmente simétrica, que seria reverenciada pelas gerações que seguiram como um dos pilares do modernismo. O próprio Proust comparava Em busca do tempo perdido a uma catedral gótica que, vista de baixo, parece estender-se para cima infinitamente, e o crítico norte-americano Edmund Wilson comparou-o a uma sinfonia. Harold Bloom considera que Proust e seu Em busca do tempo perdido desafiam o poder shakespeariano de representação de personagens e faz notar que as personagens proustianas, assim como as de Shakespeare, resistem a qualquer tentativa de redução psicológica. “A grande força de Proust, entre tantas outras, é a caracterização: nenhum romancista do século XX pôde igualar seu rol de personalidades vívidas”, afirmou. Já Edmund Wilson chamou o romance de Proust de “a maior representação literária da nossa época” e salientou, naquela que é, segundo ele, “a grande obra da autocriação”, “a crença no poder da arte disputar com o tempo”.
mariza de almeida
rio de janeiro
foi de grade elucidaçao....claro e nitido ...
12/02/2014
Agatha
MARIZA AKMEIDA
rio de janeiro
EXCELENTE TRABALHO ...
12/02/2014