Hélio Silva
Hélio Ribeiro da Silva nasceu a 10 de abril de 1904, no subúrbio carioca do Riachuelo (Estrada de Ferro Central do Brasil). Estudou em escolas públicas do Rio, onde desde cedo começou a escrever. Aos 16 anos, já fazia parte da roda literária da qual também participavam os jovens Moacyr de Almeida, Pádua de Almeida, Nóbrega da Cunha, Alberto Figueiredo Pimentel Segundo, Póvoa de Siqueira, Thomas Murat, João Ribeiro Pinheiro, Jarbas Andréa, Danton Jobim, José Barreto Filho e Francisco Galvão. Quase todos ingressaram no jornalismo. Começaram na Boa Noite e, depois, na Vanguarda. O grupo ligou-se a Agripino Griecco, Catulo da Paixão Cearense, Luiz Carlos da Fonseca, Pereira da Silva, Augusto de Lima, Álvaro Teixeira Soares; aos pintores Cândido Portinari e Oswaldo Teixeira; à pianista Ofélia do Nascimento.
Será longa a carreira assim começada. Trabalhou em muitos jornais e revistas, entre os quais O Brasil, O imparcial, A tribuna, A rua, O país; as revistas ABC e Phoenix, no Rio de Janeiro; Correio paulistano, Jornal do comércio e O combate, em São Paulo.
Em 1930, dirigia a sucursal do O país, em São Paulo. Ia ser indicado pelo líder da bancada fluminense, deputado Miranda Rosa, e pelo presidente do Estado de S. Paulo e presidente eleito da República, Júlio Prestes de Albuquerque, para uma vaga de deputado. O movimento revolucionário de 1930 não só lhe cortou a carreira política, como incendiou as redações dos jornais em que trabalhava – O país e o Correio paulistano.
Com o movimento de 1930 muitos jornais foram fechados. Colunista político influente e combativo, Hélio foi obrigado a afastar-se do jornalismo. Neste período, sobrevivia como vendedor de seguros de vida. Logo recebeu um convite para ser o chefe da sucursal no Rio da recém-fundada Folha da noite, de São Paulo. Colaborou durante muitos anos no Jornal do Brasil. Em 1949, a convite de Carlos Lacerda, assumiu o cargo de redator-chefe da Tribuna da imprensa, durante a campanha presidencial. Foi presidente do Conselho Administrativo da ABI. Colaborou ainda em vários jornais, revistas, rádios e televisão. Sua participação na política encerrou-se quando fundou, juntamente com Alceu Amoroso Lima e Paulo Sá, o Partido Democrata Cristão, no Rio de Janeiro.
Paralelamente ao jornalismo e ao ativismo político, viveu sua paixão pela medicina. Em 1922, ingressou na Faculdade de Medicina, da Praia Vermelha, RJ. Empregou-se na repartição dos Correios e Telégrafos como colante de telegramas para auxiliar o custeio de seus estudos. Começou logo no primeiro ano da faculdade a prática de medicina na Santa Casa da Misericórdia. Foi médico e professor durante cinqüenta anos. Recebeu o título de cirurgião emérito, pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões; fellow pelo Colégio Internacional de Cirurgiões; foi titular da Ordem Nacional do Mérito Médico; pertenceu a academias e sociedades científicas nacionais e estrangeiras. Foi titular do Conselho de Ciências do Estado do Rio de Janeiro, e autor de mais de sessenta trabalhos científicos.
Tendo iniciado a publicação de suas pesquisas de História Contemporânea em 1959, na Tribuna da imprensa, a convite de Carlos Lacerda e Odylo Costa Filho começou a escreveu a monumentlal obra Ciclo de Vargas, em 16 volumes, construida com a autoridade do testemunho, da proximidade do fato histórico e da sua isenção. Sua obra é fundamental para a compreensão do Brasil do século XX e referência para todas as análises e teses correntes sobre este período.
1889 – A República não esperou o amanhecer
1922 – Sangue na areia de Copacabana
1926 – A grande marcha
1930 – A revolução traída
1931 – Os tenentes no poder
1932 – Guerra paulista
1933 – A crise no tenentismo
1934 – A constituinte
1935 – A revolta vermelha
1937 – Todos os golpes se parecem
1938 – Terrorismo em campo verde
1939 – Vésperas de guerra
1942 – Guerra no continente
1944 – O Brasil na guerra
1945 – Por que depuseram Vargas
1954 – Um tiro no coração
Hélio Silva atravessou o século, numa longa e profícua vida. Sua obra sobre história do Brasil inclui cerca de 60 livros, sempre com a colaboração de Maria Cecília Ribas Carneiro. Municiado com arquivos importantes, como de Getúlio Vargas, Oswaldo Aranha, entre muitos outros.
Além de quatro volumes do Ciclo Vargas, a L&PM Editores já publicou outros livros de Hélio Silva. Abaixo, todos eles:
- 1954: Um tiro no coração
- 1926: A grande marcha
- 1889: A República não esperou o amanhecer
- 1922: Sangue na areia de Copacabana
- Vargas, uma biografia política
- Ameaça vermelha: O Plano Cohen
- Vargas (Série Pensamento Político Brasileiro)
- Memórias: a verdade de um revolucionário (apresentação do diário do General Olympio Mourão Filho)
- 1964: golpe ou contragolpe
Vários destes títulos ganharam reedições e seguem fazendo parte do catálogo da editora.
No início dos anos 1990, Hélio Silva fez voto de pobreza e recolheu-se ao Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro, onde morreu em 21 de fevereiro de 1995.
Lauro Soares Lellis
Belo Horizonte, MG
Transcrevo parte do livro que me caiu nas mãos em 2014, "Os Presidentes - Costa e Silva".
Na página 24, sobre a Revolução de 1964, já um fato com a fuga de Jango para o Uruguai e a vacância na Presidência da República, Helio Silva escreve;
"Houve, como era natural, iniciativas tendentes a escolher o novo presidente. Porque o movimento de março faziam questão de guardar, principalmente para o exterior, a aparência constitucional. Era mister, consequentemente, eleger um presidente. Os quatro candidatos à sucessão normal de João Goulart não queria a prebenda de um final de governo tumultuado. Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e Adhemar de Barros haviam participado da revolução somente quando se desiludiram da hipótese de Jango chegar ao fim de seu governo. Não lhes interessava terminar um mandato tumultuoso. Preferiam aguardar nova eleição para um qüinqüênio completo. Juscelino havia preparado todo o esquema de uma nova candidatura para 1966.
A solução de consenso foi a escolha de um presidente que ficasse o tempo necessário para completar o período inacabado, presidindo o pleito desejado pelos quatro candidatos"
Isto quer dizer que, segundo o historiador, não houve um golpe militar, mas sim um consenso e o Castelo Branco foi eleito pelo Congresso por causa da revolução.
Isto vai em confronto do que a mídia diz atualmente, que houve um Golpe Miliar.
Lauro
19/03/2014
Agatha
Mauricio Figueiredo
Rio de Janeiro-RJ
Certa vez, como repórter do Escolar-Jornal dos Sports, tive a oportunidade e
grande felicidade de entrevistar o "historiador" Hélio Silva, autor de uma grande obra
com vários volumes sobre o Ciclo Vargas. Ele me contou que, de verdade era tanto jornalista
como médico, mas que teve de abandonar essa profissão devido a um problema com as mãos,
passando a se dedicar então também a escrever sobre a Era Vargas que acompanhou como
jornalista.
De fato suas duas profissões oficiais foram o jornalismo e a medicina, mas é apontado como
um dos maiores historiadores brasileiros, sem ter cursado essa carreira de forma acadêmica.
Ele tem em comum comigo, o fato de ter nascido também em um dia 10 de abril. Quando
comentei isso com ele, me deu de presente um dos exemplares de sua vasta obra histórica,
livro que guardo com grande orgulho e carinho.
24/05/2011 10:34:10