Vida & Obra


Antônio Vieira

Antônio Vieira nasceu em Lisboa em 1608 e veio para a Bahia com sua família ainda menino. Vieira juntou-se aos jesuítas adolescente e logo se destacaria pelo brilho intelectual. Em 1626, aos 18 anos, é o en­carregado de redigir em latim a “Carta Ânua ao Geral dos Jesuí­tas” endereçada a Roma; no mesmo ano transfere-se para Olinda para ser professor de Retórica no Colégio dos jesuítas.

Em 1640, encerra-se a União Ibérica, ou seja, Por­tugal volta a ter autonomia em relação à Espanha, e no ano seguinte Vieira parte para Lisboa na comitiva do filho do vice-rei do Brasil para jurar fidelidade ao novo rei português, D. João IV. Em breve terá início sua bem-sucedida carreira de pregador e de conselheiro do rei. Na condição de diplomata e negociador, percorre boa parte da Europa tentando promover os interesses portu­gueses, inclusive negociando com os inimigos holandeses contra os quais ele já tanto pregara. A experiência administrativa na colônia, asso­ciada à atuação cosmopolita européia, em breve tornaria Vieira a inteligência política mais destacada de Portugal. O que lhe ga­rantirá admiradores e inimigos implacáveis: as primeiras denúncias contra o padre junto ao Santo Ofício, que é o órgão responsável pela Inquisição, datam de 1649.

Depois de negociar com príncipes europeus, Vieira retorna aos índios do Brasil. Em 1652, está no Mara­nhão, pregando contra e combatendo a escravização indígena, de onde será expulso pelos colonos brasileiros furiosos. Vieira, em 1662, é embarcado à força para Portugal, onde o espera o Santo Ofício com processo inquisitorial em andamento. Daí em diante transcorrerá a longa batalha contra as autoridades eclesiásticas, em boa medida porque o rei D. João IV, que protegia Vieira, já morrera, e seus sucessores não estão empenhados em garantir a liberdade do padre.

Depois de interrogatórios e prisões, finalmente Vieira, em 1669, consegue partir para Roma a fim de buscar a revisão da sentença que lhe foi dada. Em 1672, ao que parece, já prega sermões em italiano e recebe o convite para tornar-se Pregador do Papa. Depois que deixam Vieira falar, que objetivos ele não alcançaria? Em 1675, o padre obtém uma decisão do papa que o absolve das penas passadas, além de isen­tá-lo dos tribu­nais inquisitoriais portugueses: ele agora está livre dos inimigos portugueses que tramavam contra ele dentro da Igreja. Mas Vieira não voltará a exercer a in­fluência política que teve nos anos 40, embora volte a ocupar altos cargos na administração metropolitana.

Em 1681, aos 73 anos, Vieira retorna para a Bahia, e não mais retornará a Portugal. Nem por isso a­ban­dona as polêmicas e os altos cargos: em 1691, com mais de oitenta anos, Vieira ocupa o importante cargo de Visitador, e é dele um parecer arrasador pregando a destruição do Quilombo de Palmares. No seu parecer Vieira contesta os argumentos de um outro padre, que alegara a possibilidade de um arreglo e da concessão da liber­dade a parte dos palmarinos. Na sua feroz e fria dialética, Vieira nota: “Porém, esta mesma liberdade assim consi­derada seria a total destruição do Brasil, porque, conhe­cendo os demais negros que por este meio tinham conse­guido o ficar livres, cada ci­dade, cada vila, cada lugar, cada engenho, seriam logo outros Palmares, fugindo e passando aos matos com todo o seu cabedal, que não é outro mais que o próprio corpo”. Vieira continuava sendo o enunciador da dinâmica escravista colonial.

E o supremo defensor da liberdade dos índios, que só deveriam se vincular aos jesuítas. Em 1694, aos 85 anos, o velho e doente padre trata de combater o sis­tema de “repartimentos” de índios tal como pretendido pelos bandeirantes de São Paulo, sistema que já era aceito pela maior parte de seus companheiros jesuítas. Para Vieira, era evidente que qualquer procedimento que subordinasse indígenas aos povoadores de São Paulo significava escravização em larga escala. Ele escreveu em carta a destinatário ilustre: “Não me temo de Castela, temo-me desta canalha”. A canalha referida eram os escravizadores paulistas.

A 18 de julho de 1697, o padre morre no Colégio dos Jesuítas da Bahia. Não sem antes haver reunido e organizado a maio­ria de seus célebres sermões, tarefa a que já se dedicava desde 1679. Sermões que haviam sido pregados na Bahia, no Maranhão, em Lisboa, em Roma e ainda outras paragens. O jesuíta, contudo, valorizava ainda mais seus escritos proféticos, em que sonhava para Portugal um futuro glorioso na condição de império católico e missio­nário. As previsões messiânicas de Vieira são elaboradas a partir de meados do século XVII e são acusadas de ser um delírio compensatório pela já gritante escassa importância de Portugal no quadro europeu.

Homero Vizeu Araújo

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