Mariana Alcoforado
A história destas cartas começa quando o texto é publicado pela primeira vez em 1669, em Paris, numa edição francesa de autor anônimo, na suposição (pelo próprio subtítulo) de que seria uma tradução. Golpe de marketing (o editor teria sonegado o nome do autor, atribuindo as cartas a uma religiosa portuguesa – uma manobra sensacionalista) ou não, a dúvida fez com que dezenas de estudiosos e curiosos se lançassem ao encalço da solução do enigma. Para se ter uma idéia da longa celebridade destas cartas, grandes autores delas se ocuparam, como Stendhal, Sainte-Beuve, Rainer Marie Rilke, La Bruyère, Jean-Jacques Rousseau, entre muitos outros.
Para ambas as “correntes” há indícios e provas. A versão portuguesa, hoje praticamente aceita internacionalmente, é que de fato existiu em Beja, Portugal, no convento de Nossa Senhora da Conceição, uma freira de nome Mariana Alcoforado, nascida em 22 de abril de 1640 e com registro de morte em 22 de julho de 1723. Tendo entrado para o convento aos 12 anos de idade, por volta de 1660, teria vivido intensa paixão por um oficial francês, o Sr. Cavalheiro De Chamilly, que servia em terras portuguesas. De retorno a Paris, o senhor C. teria trocado arrebatada correspondência com sua amada portuguesa, fato que é ratificado por Saint-Simon, contemporâneo e conhecido do galante oficial, homem de posses e estabelecido com mulher e filhos. A edição de 1669 atribui a autoria a um anônimo, mas em 1810 o periódico francês Journal de L’Empire publica a descoberta, pelo escritor francês Boissonade, de um exemplar das cartas, anotado, onde se diz que quem as escreveu foi Mariana Alcoforado e que o destinatário era o Sr. De Chamilly.
A versão francesa é de que um tal Guilleragues, a quem a edição de 1669 atribui a tradução das Cartas, seria o verdadeiro autor, e que tudo não passaria de um golpe publicitário do autor e do editor. O fato do autor ser anônimo, na época, constituía um charme para a publicação. Era uma prática muito em voga, tanto que um dos maiores best-sellers deste período, o clássico libertino Tereza Filósofa, era de autor anônimo. A comprovada descoberta do autor só ocorreu em nosso século e na década de 90(!): tratava-se do Marquês D’Argens, ou Jean-Baptiste de Boyer. Naqueles longínquos anos, tudo se passava numa atmosfera de cortes românticas, anônimos geniais, punhos de renda e punhais dourados, e o recato das damas, contrastando com o arrebatamento dos cavalheiros, culminava com amores sísmicos.
Trecho da apresentação de Cartas portuguesas
Litografia de Henri Matisse
Maria Lucilena Gonzaga Costa / Cametá-Pará
As "Cartas de Mariana Alcoforado" são a grande representação do acentuado lirismo português. uma leitura literalmente prazerosa constituída a partir de um idílio impossível entre a freira Mariana e o cavaleiro de C... As epístolas, acentuam a veracidade do relacionamento frustre da religiosa. Vale conferir!
12/06/2009 10:04:01