“...se você mantivesse boas relações com o Tempo, ele faria quase tudo que você quisesse com o relógio.”

Será que, assim como fez a Alice de Lewis Carroll, os fãs da Alice de Tim Burton andaram batendo no tempo? Em uma passagem do livro, em conversa com o Chapeleiro, a menina conta que bate o tempo para marcar o compasso nas aulas de música. O que faz com que o louco personagem a censure, dizendo que ela não deveria fazer isso, pois o “senhor Tempo” precisa ser bem tratado. 

Ao ansioso público, talvez tenha faltado o aviso de que o “senhor Tempo” deve ser tratado com carinho. Porque a sensação é a de que, do primeiro trailer até hoje, dia que o filme começa no Brasil, passou-se muito tempo. Na verdade, a estreia foi  se dilatando pelas marcações  insistentes das estratégias de lançamento. E o frenesi pelo filme originou novos produtos vinculados à estética do cultuado diretor e ao fabuloso mundo de Carroll.

E assim, nesse compasso de espera, Alice foi descoberta no catálogo da Biblioteca Britânica, ganhou versões para e-book, experiências como o Vook (combinação de vídeo e livro), ganhou novíssimas edições em livros tão visuais quanto o próprio filme. No meio disso, voltaram à tona polêmicas sobre as motivações de Lewis Carroll para escrever a história e mais milhares de teorias sobre o universo fantástico no qual Alice se embrenha.

Depois de todo o marketing, resta apenas um caminho para completar a experiência: tomar o livro (esse mesmo, de papel e costurado) nas mãos. E ler. O fantástico País das Maravilhas ainda reserva surpresas que nem o filme (cuja história é um retorno da Alice crescida ao universo que havia conhecido quando jovem), nem tudo o que se falou sobre ele, podem revelar.

“Quem é você?”, por exemplo, será uma pergunta que continuará a atormentar as Alices que vivem em todos nós, ao passo que a charada do Chapeleiro “Por que um corvo é parecido com uma escrivaninha?”, seguirá insolúvel e, talvez por isso mesmo, intrigante em sua resposta: não há resposta. Como também não há uma resposta precisa a todo o encantamento que Carroll segue despertando no maravilhoso mundo de adultos e crianças.

A L&PM publica na coleção de bolso Alice no País das Maravilhas e Alice no País do Espelho, os dois com os desenhos originais do inglês John Tenniel.